Como a escola se prepara para receber?


Além de recursos técnicos e profissionais de apoio, o atendimento das crianças e dos adolescentes com deficiência exige uma gama de afetos e de interesses múltiplos. No Ceará, os Núcleos de Apoio Pedagógico Especializado (Napes) e o Centro de Referência em Educação e Atendimento Especializado do Estado do Ceará (Creaece) são determinantes para a inclusão

Isabel Costa / isabelcosta@opovo.com.br

Simone Lima, de 43 anos, é professora de língua portuguesa da rede pública estadual. Graduada na década de 1990, ela encontrou um novo desafio pedagógico nos últimos anos: a presença constante de adolescentes com deficiência em sala de aula. Se antes eles eram atendidos apenas em instituições especializadas, agora é cada vez mais comum ter alunos com esse perfil. Simone – que, no curso de Letras, nunca teve disciplinas sobre educação inclusiva – precisou repensar o modelo de aulas para atender a esse público. A tarefa é prazerosa, mas não é fácil.

Por vezes, nas reuniões que tem com o Núcleo de Apoio Pedagógico Especializado (Nape) da escola, a professora chega às lágrimas. Não é simples, ela diz, tentar caminhar a passos largos quando todo o sistema não colabora para a aprendizagem dos estudantes. Quando recebeu um surdo em sala, ela elaborava planos de aula detalhados para que o aluno pudesse fazer a leitura. “Tentava falar pausadamente e com bastante articulação para que ele pudesse fazer a leitura labial. Pedia para os colegas ajudarem. Incentivava a participação”, conta a docente, que leciona na Escola de Ensino Fundamental e Médio Polivalente Modelo de Fortaleza, no bairro José Walter.

É com o Nape e seus profissionais que Simone pode contar. Busca apoio para entender como construir as aulas. Muito do que ela aplica na sala, entretanto, vem de pesquisas próprias e de observação empírica. Já teve alunos surdos, cegos e autistas. Quando a deficiência é identificada, fica tudo mais fácil. O maior problema, aponta, é quando eles chegam à sala sem um laudo. “A gente sabe que aquela pessoa tem uma particularidade, mas ninguém nunca investigou para saber o que é. Às vezes, por medo, as famílias fingem que não veem”, lamenta.

A realidade de Simone é parecida com grande parte dos docentes das redes públicas de ensino. Apesar de não terem passado por formação específica para atuar com pessoas com deficiência em suas graduações, eles se esforçam e fazem acontecer uma prática diferente. São amparados, entretanto, por equipamentos de retaguarda como os Napes e o Centro de Referência em Educação e Atendimento Especializado do Estado do Ceará (Creaece).

Aline Lourenço, superintendente de Educação Especial da Sefor II, explica que muitas escolas têm dificuldade de lidar com os alunos com deficiência. “Eles estão deixando de ficar em casa ou de frequentar instituições específicas e estão indo para a sala de aula regular”, pontua Aline. Entre a classe docente, ela diz, ainda há dificuldade sobre como trabalhar: “Mas eles buscam ajuda”.

A disposição dos professores cearenses para encontrar os melhores mecanismos de ensino atrai cada vez mais pessoas para a sala de aula. “Estamos vivendo uma época na qual se fala muito de inclusão, se fala muito de tirar os meninos das casa… Mas temos que ter a consciência de que nós precisamos preparar os nossos diretores, gestores e professores para avaliar esses alunos e passar o conhecimento de acordo com a necessidade e a realidade dos alunos”, destaca Aline.

Gêwada Weyne Linhares, assessora técnica da Educação Especial Codea/Diversidade e Inclusão Educacional da Seduc, destaca como fundamental a presença dos Napes, que são uma iniciativa única no Brasil. “Com profissionais da saúde – terapeuta, psicólogo, fonoaudiólogo. Outros estados só têm isso na área de saúde. Nós temos esses núcleos dentro de escolas e atendendo estudantes de várias instituições. E o Creaece, além disso, que atende a todos os serviços da área, faz acompanhamento das famílias, dos estudantes e confecção de material para alunos”, acrescenta.

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